segunda-feira, janeiro 28

Ficção e mudança

Nos últimos dias temos assistido a algo que parece estar a mudar, ou a dar um novo sentido, à forma como se tem olhado para a economia nos últimos anos.
O mercado pouco regulado começa a ser olhado com alguma desconfiança até por aqueles que mais têm ganho com a sua desregulamentação: os especuladores financeiros.
George Soros avançou, num artigo recente (Público 24.01.08), «que esta é a crise mais grave dos últimos 60 anos», onde apela a uma maior intervenção das autoridades. Os mercados não se equilibram por si próprios. A complexidade dos produtos financeiros tornou o seu “controle” bem mais difícil.
Durante o fim-de-semana em Davos, Dominique Strauss-Kahn, que lidera actualmente o FMI, defendeu um incremento das politicas orçamentais expansionistas, contra a “consolidação orçamental” defendida habitualmente pelo FMI. Esta alteração surge dentro de um contexto de reconhecimento de uma crise mais profunda nos mercados do que, até agora, se poderia pensar.

Toda esta situação leva-nos a pensar duas coisas: uma é estarmos de facto a iniciar um novo período histórico, onde muito do que se julgava adquirido, parece prestes a mudar. Outra é serem os “mercados” tão ficcionais quanto uma boa história de Hollywood. Vamos ver se 2008 não acaba com algum final surpreendente. Ainda por cima, com a greve dos “guionistas” nos EUA, poderá ser inesperado.

domingo, janeiro 20

Movimento Cívico “Pró-Margem Sul”

Na última 5ºFeira, dia 17 de Janeiro, estivemos na conferência de imprensa para a apresentação do Movimento Cívico “Pró-Margem Sul” ao qual, tivemos a honra de ser convidados para integrar. Este movimento lançado por iniciativa da LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão), tinha como principal objectivo fazer “lóbi” pela localização na margem sul do Tejo do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). Tendo sido, entretanto, tomada a decisão pelo governo de o colocar no Campo de Tiro de Alcochete, achou-se por bem manter o “movimento”, para se acompanhar os próximos desenvolvimentos. A decisão da localização é apenas um dos aspectos. Tudo o resto se mantém em aberto. Para quem vive na região a oportunidade é imensa mas ameaças também são muitas. Por essa razão pareceu-nos ser importante manter um grupo de reflexão, vindo da sociedade civil, sobre o futuro desenvolvimento desta infraestrutura.

Vamos de seguida colocar algumas questões que foram levantadas ao longo da cessão e que por si só merecem a nossa atenção:

O NAL deve ser o mais próximo possível de Lisboa para ser competitivo. O que deixa ainda em aberto a sua exacta localização.

As suas acessibilidades devem ser alvo de grande ponderação. Quer pela sua contribuição para o encurtar das distâncias, quer por questões de ordenamento do território e de custo de investimento. Como se sabe até a ponte Chelas/Barreiro não é consensual e torná-la também rodoviária ainda menos. Mas as duvidas não são só estas.

A forma como este processo vai ser conduzido é outro dos factores críticos identificados. Deixar a condução deste processo entregue à actual Administração, Nacional, Regional e Local, parece ser pouco recomendável. Será eventualmente necessário criar um organismo próprio com competências especiais para lançar e acompanhar este projecto. Este, sendo um projecto faseado, tem alguma urgência inicial. Relacionada com a competição à escala Ibérica que assume. Do ponto de vista aeronáutico mas não só. Mas a preocupação é de ocupação do território. Deve ser mantido um dos seus factores competitivos: a sua capacidade de expansão. E esta não é só directamente ligada ao número de pistas, mas da “cidade aeroportuária” que se tem de planear e definir conceptualmente. Pois não se trata de uma verdadeira cidade, mas de um pólo com diversas especialidades e funcionalidades.

Ficam aqui enumeradas algumas das questões pendentes e que merecem a atenção de todos. Especialmente dos que mais directamente serão afectados por elas no seu quotidiano. Os habitantes da nossa região.

quinta-feira, janeiro 17

Regionalizar??.....


Como é que se pode falar em Regionalização e esperar que alguém leve o assunto a sério. O País, ou parte dele, identificou a urgência de controlar e reformar o “monstro” há mais de uma década mas pouco se vê nesse sentido. Se dominar a Administração Central do Estado é assim tão difícil e se a Administração Local começa a ser outro pesadelo como se pode pensar em criar mais uma, pensará o português comum? Não é possível levar a sério. Se for a referendo é para perder, como mostram as sondagens.
Damos, gratuitamente a seguinte sugestão: Será melhor começar por tornar a administração existente eficaz e funcional e só depois começar a discutir uma (nova) Regionalização.
Em teoria, um nível de articulação regional, é imprescindível para a racionalização do planeamento e para a respectiva implementação de politicas e acções de âmbito mais alargado que o municipal. Mas se não se consegue articular e tornar eficaz o que existe, criar um novo patamar só dá para desconfiar…

quarta-feira, janeiro 16

Sinais

Existe, novamente, no discurso político do PSD uma vontade de “controlar” a comunicação social através dos comentadores escolhidos para os programas de discussão politica exigindo “pluralismo” na opinião. Segundo Luís Filipe Menezes, devem manter-se, na mesma os livres-pensadores (até quando), mas têm de se introduzir uns alinhados com as direcções partidárias nestes programas de televisão. É certo que o governo pensa e sempre que pode faz, a mesma coisa, mas fá-lo de forma discreta, por outros meios.
Será esta a melhor forma de defender o pluralismo é reclamando tratamento de favor na comunicação social? Não. Este não é o caminho eficaz para o conseguir. Tal como na sucessão da Caixa Geral de Depósitos, Luís Filipe Menezes, vai dando sinais do que parece ser o seu entendimento para a construção de um País com menos peso do Estado. E esse não se vislumbra diferente do que nos é oferecido por Sócrates, antes pelo contrário...

segunda-feira, janeiro 14

Ano Novo, novas oportunidades para Setúbal?


Perante um cenário económico, nacional e mesmo internacional, no mínimo, de grande indefinição, eis que surge uma boa notícia e com ela uma oportunidade se abre para Setúbal e a sua região. Falamos, obviamente, da decisão tomada pelo governo na última semana: o Novo Aeroporto Lisboa (NAL) no Campo de Tiro de Alcochete.

Politicamente a decisão tardava. Um novo aeroporto internacional era urgente. O esgotamento da Portela ameaçava, ainda mais, a já periférica situação em que nos encontramos face a Madrid, à restante Europa e ao Mundo. Apesar de tornar muito duvidosa a determinação governativa na condução deste processo, é sempre preferível a melhor decisão. Aplaudimos. Mas não esquecemos que esta se ficou a dever ao empenho da “sociedade civil” e de alguma oposição, que se bateram contra a irracionalidade, exigindo explicações sobre o porquê de uma opção que, quanto mais se discutia, mais parecia apenas e só…uma obsessão. Vale pois a pena continuar a lutar pelas melhores opções. Alcochete parece ser a melhor; para o país, para a região e, também, para a cidade.

Portugal fica com uma solução aeroportuária que pode ser de crescimento lento mas sem limites. Permite um controle de custos – ao se articular com a Portela durante os próximos anos – gradual e ajustado às reais necessidades de tráfego aéreo do país sem, no entanto, estar condicionado em crescimento. Tendo espaço para se tornar numa grande plataforma internacional entre a América, a Europa e África, de acordo com o apontado pelos estudos do LNEC. Como noutros tempos, a boa condução de um investimento, pode ajudar esta periferia geográfica a ser novamente central.

A Península de Setúbal, com grande ligação ao sul e a Espanha, vai poder equilibrar-se, a nível do ordenamento do território, com a margem norte do Tejo, no contexto da Área Metropolitana de Lisboa. Esse desequilíbrio era muito negativo para a “margem sul”. Tornava mais difícil a vida das suas populações, muito dependentes do lado norte, e das suas sobras. A metrópole que é a grande Lisboa se for mais harmoniosa, económica e socialmente é também mais sustentável ambientalmente. A coesão territorial entre as duas margens só podem beneficiar todos. Uma nova ponte simbólica, mas, também, real (veja-se Chelas/Barreiro com o TGV) está a ser lançada. A região poderá voltar ser um elo de ligação entre Portugal e o mundo, onde se inclui Espanha, assim como entre o norte e o sul do país.

A Setúbal é dada uma oportunidade que não se pode desperdiçar. Sendo com Lisboa a única cidade com identidade urbana dada pela história nas imediações do NAL e estando próxima de um pólo turístico, que se pretende de referência: Tróia. Esta, vê reforçada a sua posição estratégica enquanto ponto de passagem. Ser só um ponto nesse percurso ou ser também de paragem é uma questão decisiva para o seu desenvolvimento. Para se poder atrair turismo mais exigente tem que ter algo que os outros não tenham. E o que temos é suficiente? Pensamos que não. Temos: Paisagem (Arrábida e Estuário do Sado) a Cidade histórica (muito degradada e com comércio decadente) e Mão-de-obra (pouco qualificada). Que fazer? Apesar de se ter, aparentemente, condições potenciais, falta realizar o potencial para se oferecer alguma qualidade. Agora muito vai depender dos Setubalenses. Atrevemo-nos, pois a sugerir alguma coisa.

À paisagem “basta” conservá-la (o que já não é pouco) e permitir o seu usufruto sem excessos, criando e incentivando o turismo “ambiental”, de preferência despoluindo o Rio Sado. A cidade tem de se reabilitar, não só o seu centro histórico, mas também os bairros. Principalmente os mais degradados e “guetizados”. Mas toda a cidade tem de ganhar uma nova atitude, harmonizando-se com a sua envolvente, tornando-se mais “verde” e mais agradável ao cidadão e, por consequência, a quem nos visita. As zonas antigas têm uma dimensão considerável e por força de não terem sofrido grandes mudanças mantêm-se quase intactas, apesar do mau estado. É necessário voltar a encher de gente. Dos que saíram mas também de novos habitantes, conservando os “velhos”. Mantendo o seu carácter urbano, mas mais cosmopolita. Criando comércio e restauração de referência. Únicos. Só de cá. Mas com qualidade. O turismo urbano tem um enorme potencial. A articulação dos meios de transporte entre si e com o tecido urbano também é estratégica, principalmente na ligação entre Lisboa, o NAL e Tróia. Junto a estas “estações”, para além da restauração e comércio convencionais poderiam estar associada a diversão nocturna. É essencial melhorar substancialmente toda a frente de Rio, preservar a pesca que sobreviveu e oferecer actividades de náutica de recreio. A criação de um ou dois pólos culturais com programação bem divulgada complementavam a oferta. Por último, mas o mais importante nesta regeneração urbana: a educação e a formação. A escola e a qualificação têm de ser uma prioridade, estar relacionadas entre si, com a cidade e o tecido económico e empresarial da região. Dirigidas, não só às novas gerações mas a todas as faixas etárias. Reconverter o tecido social e produtivo é urgente e isso faz-se “ensinando a pescar e não dando o peixe”. Só melhorando a qualidade das pessoas podemos melhorar o resto.

No fundo é necessário criar, promover e explorar na cidade e no concelho o que não existe na região. Oferecer melhores produtos e serviços e apostar na diferenciação. Se assim não for poderemos ficar apenas a ver passar comboios, aviões e navios.
Bom ano.


Publicado hoje no "Jornal de Setúbal"

quarta-feira, janeiro 9

Divulgação


“PARA ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER”

Iniciam-se Quinta-Feira

10 de Janeiro de 2008 às 21.30 h

Na Fábrica Braço de Prata- Sala Prado Coelho

Sessões de Encontro-Debate Psicanalítico

O Centro Português de Psicanálise propõe-se debater nas segundas Quintas-Feiras de
cada mês, um conjunto de temas, a partir de um questionamento sempre premente da
actualidade e subordinado ao título “ Para além do princípio do prazer”.
Pretendemos dar voz a uma perspectiva analítica assente na radicalidade e singularidade
do inconsciente e na fala de cada um como manifestação do seu desejo enquanto sujeito.
Estará em debate o modo como os discursos dominantes circulam e qual o lugar da
Psicanálise face ao consumismo conformista e ao predomínio da lógica utilitarista.
No primeiro debate, com a participação de Maria Belo, psicóloga e psicanalista,
abordaremos a temática subjacente ao título deste ciclo.
Ficam convidados todos os interessados em participar no primeiro debate a realizar no
próximo dia 10 de Janeiro pelas 21.30 na Fábrica do Braço de Prata.
Entrada Livre

segunda-feira, janeiro 7

O Pacheco, Luiz


soubemos que nos deixou durante este fim-de-semana. Ficámos mais pobres. Mas não vamos aqui fazer aquilo que o próprio acharia abjecto, um elogio póstumo. Apenas manifestar algum respeito por quem nos faz pensar.

Luiz Pacheco (LP) era no panorama intelectual e mesmo existencial um fenómeno raro entre nós. Apesar de admirarmos nos outros um certo pendor para a desgraça, até porque nos deixa sempre mais confortáveis na nossa ilustre mediocridade, preferimos sempre aquela que se justifica pela doença, má sorte ou, sendo intelectual, a incompreensão e a injustiça do País face ao génio. LP não cabia em nenhuma destas categorias. Não era doente, apesar da vida de “excessos” que levou, não teve má sorte, cultivou-a e o seu génio foi reconhecido. A pequena dimensão do País e o facto de se estar a lixar para o sistema reverencial da “coltura” portuguesa não lhe permitiu viver com conforto. Mas todos lhe reconheceram o génio.

Nunca se queixou, antes denunciou quem vivia da tensa do Estado sem o merecer ou de que quem produzia literatura como se fosse um funcionário público, todos os dias. Não fazia qualquer concessão. Foi o mais próximo que tivemos de um libertário radical no século XX português.
O que é interessante registar é que foi durante o Estado Novo que viveu boa parte da sua vida adulta (muito ligado aos meios surrealistas). Tempos de ditadura. Mas se LP tivesse tido a sua juventude hoje seria um homem mais perseguido e menos livre. No mínimo seria preso. Pedófilo, além de ser bissexual sujeitou toda a sua família a um ambiente pouco recomendável, para os padrões vigentes. Viveu no limite, até da sobrevivência.

Sem qualquer apologia, literária ou ao modo de vida de LP aqui fica a nossa admiração e respeito pela diferença. Uma das mais admiráveis características do homem. E quem assume com a radicalidade com que Pacheco o fez merece ainda mais respeito por não ser gratuita. Pensar nele e na sua obra faz-nos reflectir sobre as nossas opções relativizando-as. E isso é… muito.

quinta-feira, janeiro 3

Petróleo a 100



Estará o mundo, tal como o conhecemos, “condenado” a afundar-se com esta matéria-prima? Muito provavelmente não. Mas ao ter chegado aos 100 dólares, algo parece estar definitivamente a mudar. Dizem os especialistas que entrámos na linha descendente da sua produção. Sendo a procura crescente, não se prevêem mudanças no curso dos custos. Mesmo estabilizando, a prazo, não parará de aumentar o seu preço. O modelo de desenvolvimento adoptado por cada vez maior número de seres humanos assim faz crer. No entanto, os seus custos crescentes terão consequências. Já estão a ter, nomeadamente nas nossas opções individuais. Em Portugal o aumento de custos de combustível já fazem sentir a diminuição da utilização do transporte individual.

Suspeitámos que o mercado, neste particular, terá mais efeitos entre nós, que muitas tentativas frustradas ao nível do planeamento das nossas cidades para melhorar a mobilidade. Especialmente na diminuição do uso do automóvel. Não vos parece?

Mas o condicionamento energético vai ter outras consequências imediatas. O modelo de desenvolvimento vai ter de mudar. O consumo puro e duro, como motor da economia vai ter de ser reponderado. E se consumir menos passar a ser sinal de melhor nível de vida? A economia, como outras áreas da existência humana, tem muito de “construção mental” e esta esteve, quase sempre, ligada às necessidades de sobrevivência dos povos. Quando assim não foi terminaram as civilizações, sendo substituídas por outras…